Dos caixotes que agora habitam a minha casa vão saltando a minha infância e adolescência.
Deles se vão destacando, por exemplo, os livros, como os de Agatha Christie, que me povoaram as noites de um terror conscientemente infligido, em que a minha imaginação de menina (não da rádio, mas de tenra idade) me colocava exactamente no centro do mistério de morte, secretismo e maldade.
Desse grupo, destaco, por exemplo, "Convite para morte". Um cenário que me fez passar noites em branco, com os professores a fazer queixinhas de "a sua filha dorme pouco" e os meus pais - cúmplices - a fingir que não percebiam que, depois do beijo de boas-noites, eu voltava a acender luz para me deliciar com mais 2 ou 3 horas de terror vivido página a página, e a minha imaginação de menina (não da rádio, mas de tenra idade) a levar-me para o suspense que me fazia tremer com os ruídos que ouvia na casa de soalho, também ela povoada por dezenas de anos de histórias e mortes e vidas que eu acreditava terem sido tão terríveis como as que ia lendo.
A minha vida, agora, sinto-a assim: um caixote de onde vão saltando a minha infância e adolescência.
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