terça-feira, 3 de novembro de 2009

Os mortos

Nunca o tinha feito, mas sabia que um dia chegaria a minha vez. Vi a minha mãe fazê-lo e, depois da sua morte, era o meu pai quem o fazia. Quando também ele se foi, o meu irmão - novo patriarca da família - assumiu de imediato a responsabilidade.
Neste último fim-de-semana, porém, já que andava por ali, resolvi agarrar-me à tarefa.
De roupa velha, escova e lixívia, balde e trapos velhos, ajoelhei-me e esfreguei. Ia conversando e ia atirando os baldes de água conforme as ordens da Maria Borba - minha vizinha de toda a vida e que sempre me fez as vezes de avó - e ao ritmo das conversas de outras mulheres que andavam ao mesmo. Algumas, amigas de minha mãe. Outras, amigas minhas, de vidas menos privilegiadas e que aprenderam bem mais cedo do que eu o que fazer no dia a que, em algumas circunstâncias, se chama de todos os santos, mas que na verdade, é o dia dos mortos - designação que traz um carinho que compreendemos melhor quantas mais pessoas queridas tivermos perdido.

4 comentários:

Maria Brandão disse...

desde pequena, sempre acompanhei a minha avó ao cemitério, nesse dia, para a ver limpar, deixar novas flores e tratar com carinho (como dizes e mt bem) a "casa" dos que ela amava e já tinham partido. antes de morrer, ela deixou-me essa incumbência e é com muito carinho (e saudade, tb) que lhe repito os gestos, ano após ano :)

Miguel Bettencourt disse...

Apesar do tema, ao qual não podemos fugir porque é tão natural como respirarmos, este é um post bonito.

Anônimo disse...

Lembro-me de em pequena essa ser igualmente uma tradição, mas não se tratando de familiares directos. Dou graças por hoje em dia ainda não estar na situação da Menina da Rádio, mas efectivamente é com carinho que leio o seu post.

Cat

Pedro Aniceto disse...

Só uma correcção. O dia 1 de Novembro é o Dia de Todos os Santos (Omnium Santorum), o dia 2 é que é aquele que a Igreja consagra como Dia dos Fiéis Defuntos (ou Dia de Finados). Dá imenso jeito tratar disto num dia feriado, mas na verdade o dia 1 não é o dia que (quase) toda a gente chama erradamente.