sexta-feira, 22 de junho de 2012

À Senhora Dona Eunice.

   Sou rapariguinha de província e filha dos professores da freguesia. Cresci, portanto, consciente da diferença a que era votada. Eu entrava porta adentro em casa das minhas amigas mas, na minha, ninguém entrava sem bater. Além disso, muitos dos meus amigos recusavam-se, pura e simplesmente, a pôr lá os pés porque o respeito ao meu pai se confundia com o receio. Estamos a falar de uma época em que se iam chamar os professores quando era preciso alguém discutir com o padre...
   Depois desta introdução, aproximo-me da conclusão a que quero chegar: o respeitinho à minha mãe tinha o seu expoente máximo na comerciante que tratava a minha mãe por Senhora Dona Professora. E é daí que vem a mania que eu e os meus amigos temos de chamar senhora dona a umas poucas figuras por quem temos respeito a sério: a Senhora Dona Amália, a Senhora Dona Simone e a Senhora Dona Eunice.

   Posto isto quero mandar para o raio que os parta os parvalhões que deram a senhora dona Eunice por falecida. Antes disso ainda tenho de emendar o erro crasso que cometi um dia em Oeiras, ao vê-la a tomar o seu café. Fiquei em pânico, completamente starstruck, lavada em suores frios e controlei a vontade de me aproximar, fazer-lhe uma vénia e dizer-lhe o quanto sou fã - porque não a quis incomodar.
   Dias depois lá estava ela, na televisão, a dizer o quanto gosta que as pessoas se aproximem e lhe falem - porque é o maior reconhecimento que se pode fazer a um artista.

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