terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A água

- São duas águas, se faz favor.
Os copos são os primeiros a chegar. Têm tanto esterco à vista desarmada que o meu pensamento imediato é "vou beber pela garrafa".
Como se me lesse os pensamentos, o empregado pega nas garrafas e limpa-lhes o gargalo com o mesmo pano que usou para limpar o balcão.
Olhei de relance para a Raquel.
- Calma - diz ela.
Com o meu melhor sorriso, pedi ao senhor:
- Duas palhinhas, se faz favor.
O senhor vai buscá-las ao fundo do bar e volta alegremente com as palhinhas na mão. Elas não têm um plástico protector. Vêm soltas, nas mãos do senhor, que as vai apalpando de uma ponta à outra enquanto pára a responder a outro cliente. Usa as palhinhas como se fossem uma bela mulher, apalpando-as de uma ponta à outra, com as mesmas mãos que usou para pegar no pano com que limpou o balcão e a seguir as garrafas de água, e com que nos fez o troco, com o dinheiro que as análises mais recentes garantem que tem vestígios de fezes, sémen e mais não sei o quê.
Posto isto, eu e a Raquel tivemos a única atitude possível: rimos à garagalhada.

2 comentários:

Maria Brandão disse...

Já vi esse filme :D

Anônimo disse...

Pois, antes rir do que chorar!!!
Beijo. R