sexta-feira, 14 de novembro de 2008


Ismália falava à janela com o namorado a altas horas da noite. Ela no primeiro andar e ele no quintal de trás da casa, lá iam sussurrando o que tinha ficado por dizer durante o dia.


Uma bela noite, a mãe apanhou-a - dependurada na janela, bichanando alto para que o namorado a ouvisse - não deu pelos passos maternais que lhe entraram no quarto e a seguir lhe deram uma tareia: aquele não era comportamento aceitável de moça decente.


Algumas noites depois, Ismália repetiu a dose: a altas horas, sussurrava alto ao namorado. Não pensem, porém, que não tinha aprendido a lição: mais atenta, ouviu os passos da mãe no corredor.


- Depressa!! - gritou ela ao namorado - encosta essa escada à janela!!


E assim fugiu da tareia que adivinhava. Sentou-se na motoreta do rapaz e lá foram os 2, altas horas da madrugada, acelerando na pacata terreola, gritando eles e gritando a mãe, estremunhada e já à porta de casa.


No dia seguinte, Ismália voltou. Agarrada por amigos da família que tinham organizado uma expedição de busca, regressou ao ventre materno que já tinha alinhavado um plano para acalmar o escândalo: havia que casar aquela gente.


Naquela noite Ismália não se atreveu a ir janela. Mas a irmã ouviu-a ao telefone, como sempre, susurrando alto ao namorado:


- Nunca confesses a ninguém que não aconteceu nada ontem à noite...se souberem, já não nos deixam casar!

Um comentário:

Maria Brandão disse...

aquilo que os outros pensam pode sempre alterar o curso de uma vida...