sábado, 5 de dezembro de 2009

Surdez de balneário

No balneário do ginásio estavam todas as senhoras que tinham acabado a aula de hidroginástica. Duas das senhoras falavam sobre os planos para a época natalícia. Uma delas confessou que apenas cumpre os rituais por espírito de tradição e de respeito pela família: "Não acredito em nada de religião. O mundo começou com o big bang. Não há nada depois da morte. Morremos e pronto."
A segunda senhora respondeu: "Pois eu acredito. Acredito que há uma entidade superior que nos criou. Mesmo que não seja Deus como o imaginamos, é uma entidade que espera por nós depois da morte. Encontro conforto para a minha vida na ideia da Sua Existência".
A senhora número um passou-se: "Não podes acreditar em nada disso, não tens provas!! Ninguém tem provas!!!"
A senhora número dois argumentou (e bem, na minha opinião) que não há provas da existência de Deus, tal como não há provas de que Ele não exista. "Além disso" acrescentou, "não preciso de provas. É por isso que se chama fé: crer sem provas. Sou livre de acreditar, como tu és livre de não acreditar. Eu escolho fazer a minha vida assim."
Tive muita pena que a senhora número um não tenha tido a capacidade de ouvir - essa característica incontornável de uma conversa - o que dizia a amiga, estando demasiado ocupada a repetir a teoria do big bang e a certeza da inexistência da alma.
Tive pena porque aquela teria sido uma conversa interessante. Duas senhoras com experiência de vida, casadas, com famílias grandes, educações semelhantes e, no entanto, com duas perspectivas tão diferentes sobre a religião - nesta terra do Senhor Santo Cristo dos Milagres e dos romeiros.
Teria sido uma conversa tão interessante se uma delas tivesse tido a capacidade de ouvir - essa característica incontornável de uma conversa.

3 comentários:

Maria Brandão disse...

perfeito!

jobé disse...

infelizmente cada vez mais existem pessoas a falar como o seu umbigo.

Anônimo disse...

Fica feio escutar a conversa dos outros...