A Mariana roía os pés.
Não, não é assim, nem é verdade. Em pequena, a Mariana roía as unhas dos dedos dos pés - assim é que é.
Já adulta, pensava nesses tempos com um certo nojo de saber que tocava os pés com a boca (ou seria a boca com os pés?); mas também é verdade que, já adulta, sentia uma certa nostalgia desses tempos de jovem maleável.
Com a idade, tinha-lhe acontecido o mesmo que a tantos outros: era menos maleável, era mais inflexível (ou será que era menos flexível?). Havia exercícios que se tinham tornado impensáveis. Dolorosos, demasiado arriscados, com demasiadas consequências a pesar - e se abrisse uma dor nas costas?
De uma coisa, porém, se orgulhava de ter mantido desde a juventude até à idade adulta: não lambia botas.
Podia ter lambido os pés, mas tinham sido os seus próprios pés. Botas - ainda por cima, alheias - não. Isso nunca.
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